Alverca: como diversificar e dar uma nova vida a um espaço negligenciado?
Três décadas depois, um novo uso: de escritórios a retalho e serviços
Com uma utilização do edifício limitada à partida, tornou-se evidente desde o início a necessidade de reavaliar e reconsiderar usos possíveis para o edifício. A regularização administrativa foi o ponto de partida que abriu caminho para uma transformação significativa e permitiu ultrapassar as seguintes limitações iniciais:
- Apenas parte do terceiro piso e os pisos inferiores estavam em uso;
- A restante parte do terceiro piso e todos os pisos superiores, incluindo a torre, encontravam-se desocupados;
- O uso para escritórios, previsto inicialmente – há mais de três décadas – para a torre, revelou-se inviável devido mudanças no mercado desde sua construção em 1994;
- As exigências atuais do setor visam características técnicas, espaciais e de localização que não se coadunavam com as do edifício.
Assim, a estratégia adotada envolveu a diversificação do uso do espaço, afastando-se dos escritórios. Procurou-se uma nova estratégia para os espaços desocupados, assente na:
- Ampliação do uso comercial e de serviços, seguindo um programa viável do ponto de vista do investimento necessário e da procura do mercado;
- Implementação de um projeto de apartamentos para arrendamento na torre;
- Recurso a usos previstos na categoria de Espaços de Multiusos do PDM de Alverca, na qual o edifício se integra.
Esta abordagem representou não apenas um avanço significativo na utilização do espaço, mas também um passo importante na dinamização e valorização do tecido urbano de Alverca.
Uma nova configuração: mais oferta e mais ar livre
A revitalização do edifício passa também por trabalhos de demolição, introdução de novos serviços e aposta em espaços verdes e sustentabilidade. A ver:
- Mais espaços abertos: Parte de um piso atualmente desocupado, situado entre as áreas comerciais e as torres, será demolida para criar dois pátios ao ar livre.
- Mais serviços: no espaço resultante da demolição vão nascer três novas unidades de serviços, entre elas uma Loja do Cidadão, apoiadas por um café com esplanada no átrio central.
- Mais comunidade: Pátios e áreas ajardinadas vão ajudar a minimizar o impacto de carbono, podendo ser utilizados em iniciativas pedagógicas para os munícipes.
- Mais circularidade: vão ainda ser criadas hortas urbanas de forma a reduzir o número de intermediários e a favorecer a poupança em termos de transporte, embalagens e armazenamento.
Este plano de ação reflete um compromisso com a revitalização do ativo, promovendo não só uma melhoria significativa na infraestrutura local, mas também impulsionando a sustentabilidade e o envolvimento comunitário.
Um espaço pensado para todos: lazer e sustentabilidade
O parque de estacionamento exterior, localizado na frente do edifício no segundo piso, vai ser remodelado e reduzido, para direcionar a sua utilização para a população local, com novas áreas de esplanada e um parque infantil. Outras intervenções incluem ainda:
- A cedência ao domínio público de terreno para permitir a ampliação ciclovia municipal;
- A plantação uma faixa arborizada para aumentar a permeabilidade do solo e criar espaços verdes ao longo das vias de circulação;
- A promoção da biodiversidade existente e inteiramente conectada ao estuário do Tejo.
Estas ações refletem o empenho da Nhood em transformar o ativo num ponto de encontro comunitário, onde o lazer e a sustentabilidade caminham lado a lado, contribuindo para uma Alverca mais unida e consciente, seguindo uma lógica de coconstrução com o município.
Articulação com o município: parcerias com futuro
O Município de Vila Franca de Xira tem vindo, nos últimos anos, a implementar uma estratégia de regeneração urbana contemporânea das oportunidades e desafios exigidos atualmente às regiões europeias.
Alinhado com os objetivos da política de coesão para o período 2021-2027, tem-se apostado em projetos cada vez «mais verdes», sem emissões de carbono, com forte investimento nas energias renováveis e na adaptação às alterações climáticas, tirando partido da inovação e digitalização da economia e da sociedade.
Em cooperação com os agentes locais como a Nhood SA, alicerçado em parcerias que visam a transformação dos territórios, do qual é exemplo o projeto “ReGreeneration – The next generation of green, resilient and socially inclusive smart cities”, cofinanciado pelo Horizonte Europa (HORIZON-MISS-2023-CLIMA-CITIES-01-01) e que integra 27 parceiros europeus, o Município tem conseguido captar investimentos robustos com impacto societal direto. No horizonte 2024-2028 tem previsto mais de 100 milhões de euros de investimento no seu território.
Alverca do Ribatejo, uma das quatro Leading Cities (juntamente com Paris (FR), Barcelona (ES) e Bucareste(RO)) do Projeto ReGreeneration, e uma das treze Leading Cities (que incluem Madrid (ES), Leuven (BE), Prato (IT), Helsinki (FI), Athens (EL), entre outras) do Cluster “Urban Greening ans re-naturing for urban regeneration, resilience and climate neutrality” – que implementa as duas grandes Missões da União Europeia: a Missão Adaptação às Alterações Climáticas e a Missão Cidades Inteligentes e com Impacto Neutro – beneficiará, no quadro da transformação urbana que está no momento a ocorrer, do estatuto de Innovation Action Project materializando atividades de inovação e investigação, troca de conhecimento entre pares, capacitação e disseminação.
Território de contrastes geográficos, posicionado estrategicamente à entrada Norte de Lisboa, com acessibilidade rodoferroviária de excelência, a poucos minutos da capital do País e do seu Aeroporto, com 22 km de frente de rio, num dos maiores Estuários da Europa, Vila Franca de Xira é atualmente um dos Municípios europeus que procura implementar a Agenda Urbana Europeia recorrendo a abordagens integradas e participativas com impacto positivo na vida dos cidadãos.
Com obras iniciadas no verão de 2023, a conclusão da primeira fase está prevista para novembro de 2024. Esta primeira fase contempla toda a área de retalho, ficando a reconversão das torres para a segunda fase, que arrancará em 2025.
Escrito por: Hugo Vieira, Development Project Manager (Nhood Portugal) e Júlia Reis (Camâra Municipal Vila Franca de Xira)